Ex-integrantes de quadrilhas de tráfico de drogas do Rio poderão relatar suas
experiências de superação, ao largar o crime, em eventos da Organização das
Nações Unidas (ONU). O convite foi feito pelo diretor executivo do Escritório da
ONU sobre Drogas e Crime, Yury Fedotov. A ideia, segundo Fedotov, é que eles
compartilhem essas experiências.
"Vamos organizar isso com o Rafael [Rafael Franzini-Batlle, representante do
Escritório de Ligação e Parceria, que funciona em Brasília, e faz parte do
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime] e com o Afroreggae
[organização não governamental-ONG] em alguns eventos em Nova York ou em Viena”,
disse.
“A partir desse nosso encontro aqui a gente está em comunicação com o projeto
para acertar isso. A gente tem experiência com o tráfico humano e nos nossos
eventos temos a presença de representantes de ONGs e de vítimas que contam as
suas experiências e porque não com pessoas que estavam envolvidas com o tráfico
internacional de drogras? ", indagou o diretor da ONU.
O convite foi feito durante uma visita de Fedotov ao Centro Cultural
Afroreggae, que funciona na comunidades Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na zona
sul da cidade. No encontro os ex-traficantes relataram suas experiências e como
participam, agora, do projeto Comandos e Empregabilidade do Afroreggae.
Roseli dos Santos Costa ainda está presa, cumpre pena de 32 anos. Ela sai da
unidade prisional pela manhã para trabalhar como supervisora do Afroreggae e
volta à noite. "Pra mim a maior dificuldade de largar a vida do crime era a
condição financeira e a falta de dar ordens, mas eu consegui", disse a
ex-traficante que tem 45 anos e se envolveu com o tráfico aos 12 anos.
Daniela, de 35 anos, relatou ser parte das estatísticas de mulheres que
entram para o crime por causa de maridos e namorados. Segundo ela, isso ficou
para trás e agora trabalha para ajudar ex-presidiários. "Hoje faço curso de
administração e tenho a oportunidade de colocar egressos do sistema
penitenciário no mercado de trabalho", revelou. João Paulo, que também largou o
tráfico, disse que estuda em uma faculdade de direito e é coordenador do Projeto
Empregabilidade do Afroreggae " Se não fosse o Afroreggae, hoje ou eu estaria
morto ou na cadeia", ressaltou.
O secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de
Janeiro, Zaqueu Teixeira, que chefiou a Polícia Civil do Rio de Janeiro, que
também participou do encontro, agradeceu a cada um deles pelo trabalho que fazem
atualmente. " Vocês tiveram a coragem de dar um salto grande e se libertar de
tudo aquilo que não era o caminho de uma sociedade melhor. Vocês estão fazendo a
diferença", disse.
Antes do encontro no Centro Cultural Afroreggae, Yury Fedotov e Rafael
Franzini-Batlle estiveram Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do
Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. Eles foram recebidos pelo comandante da unidade,
Major Felipe Lopes Magalhães dos Reis, e pela presidenta do Instituto Pereira
Passa, da prefeitura do Rio, Eduarda La Rocque.
Os representantes da ONU assistiram ao vídeo sobre o trabalho das UPPs no Rio
de Janeiro e conheceram as estatísticas do trabalho da UPP Social que é feito
nas comunidades pacificadas em parceria com as Nações Unidas. Citando o
secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, Eduarda La Rocque disse
que "não basta chegar com a polícia nas comunidades tem que promover a
integração com a população".
Fonte: Agencia Brasil
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