quinta-feira, 10 de abril de 2014

O surgimento das primeiras escolas de Serviço Social na América Latina

O surgimento das primeiras escolas de Serviço Social na América Latina deu-se devido à necessidade de compreensão dos problemas sociais da sociedade com a finalidade de ser tornar um objeto de estudo e mediador dos conflitos entre as classes. Nesse conceito podemos citar a Igreja Católica, o Estado e a Burguesia como incentivadores na transformação indivíduo, buscando uma reforma social através de princípios básico da religião e preparo dos profissionais de Serviço Social no atendimento das necessidades do Estado, intervindo na insatisfação da classe operário e, consequentemente, favorecendo em resultados positivos a Burguesia.
            A primeira escola foi fundada em 1925, no Chile ( Santiago), chamada de Del Rio. Deu origem ao Serviço Social Latino-Americano devido a forte influência Belga, Francesa, Alemã e, consequentemente, Norte-Americana. Foi iniciativa do Estado e com o influente médico Alejandro Del Rio.
            Na América Latina, o profissional era subordinado à ter formação médica e, com isso, além de possuírem rentabilidade através da atuação na saúde, muitos trabalhavam na área de serviço social, que era de grande importância o seu conhecimento as necessidades da profissão.
            Depois em 1929, surgiu a organização Escola Elvira Matte de Cruchaga com motivações religiosas pela Igreja Católica. O objetivo era formar profissionais de serviço social capacitados para o enfrentamentos dos conflitos e a miséria da sociedade chilena, seguindo os princípios básico da Igreja no desenvolvimento de conhecimento técnicos, como no trabalho com o indivíduo, dando orientações com conteúdo religioso, entendido como vocação por seus orientadores.
            Desta forma, tinha o intuito mediar as mazelas da questão social, com visitas domiciliares das profissionais, mulheres, denominadas visitadoras. As mesmas levando paz, alegria, segurança, confiança, orientação e de uma forma normal havia claramente um controle social sob as famílias assistidas.
            A Escola Elvira Matte de Cruchaga teve influência internacional, por ser considerada a primeira escolhida pela União Católica Internacional de Serviço Social, a UCISS. Uma característica dessa organização era promover o Serviço Social na América Latina.
            No Brasil, o Serviço Social se deu através das ações da Igreja Católica no campo social. Em 1935, quando se oficializou a ação católica, D. Leme preocupado em recristianizar a sociedade criou a Universidade Católica do Rio de Janeiro, a fim de conquistar intelectuais e aproximar o Governo.
  e, segundo Iamamoto (2004, p. 18) "o debate sobre a 'questão social' atravessa toda a sociedade e obriga o Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem diante dela".

Sendo assim, surge em 1936 a primeira escola de Serviço Social em São Paulo. Essa escola nasceu do Centro de Estudos e Ação Social – CEAS. A finalidade básica discutir a questão social dentro da doutrina católica. Nesse momento, a igreja direciona pessoas a Bélgica para se especializarem e retornarem ao Brasil com os ensinamentos do curso de Serviço Social de fora.
Foi no âmbito da influência norte-americana que importamos, progressivamente, os métodos de Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo, Organização de Comunidade e, posteriormente, Desenvolvimento de Comunidade. (SILVA, 1995, p.41)
Até que em 1937 cria-se a segunda escola de Serviço Social por D. Leme, Stela de Faro e Alceu Amoroso Lima. Sendo essas duas as escolas pioneiras de Serviço Social no Brasil.
Silva (1995) afirma que desde o ano da criação das primeiras escolas de Serviço Social até 1945, são definidos três eixos para a formação profissional do assistente social são eles:
1-Formação científica, no qual era necessário o conhecimento das disciplinas como Sociologia, Psicologia, Biologia, Filosofia, favorecendo ao educando uma visão holística do homem, ajudando-o a criar o hábito da objetividade;
2-Formação técnica, cujo objetivo era preparar o educando quanto sua ação no combate aos males sociais; e a
3-Formação moral e doutrinária, fazendo com que os princípios inerentes à profissão sejam absorvidos pelos alunos.


A partir da década de 30, com a urbanização crescente, os efeitos do capitalismo, a luta de classes foi marcante para a institucionalização do Serviço Social. O profissional de serviço social, o assistente social, passou a ser colocar no mercado como mão-de-obra especializada a enfrentar os problemas sociais através de práticas, metodologias, aplicações de programas sociais.


Por Glaucia Vargas

quinta-feira, 3 de abril de 2014

População brasileira é ainda patriarcal, mostra pesquisa do IPEA apoiada pela ONU

Na última quinta-feira (27), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com apoio da ONU Mulheres, lançou a primeira pesquisa que mede a tolerância da sociedade brasileira em relação à violência contra as mulheres.
Os dados revelam que, de modo geral, a população brasileira ainda possui uma visão de família nuclear patriarcal em que o homem é percebido como o chefe da família e a esposa, por sua vez, deve “se dar ao respeito” e se comportar segundo o papel prescrito pelo modelo patriarcal heteronormativo.
Apesar de considerarem que as “rusgas menores” devam ser resolvidas em casa, as pessoas se mostram contrárias às formas mais abertas e extremas de violência, defendendo a intervenção pública na esfera privada nesses casos, bem como a separação do casal e a punição dos maridos agressores.
A população parece reconhecer outras formas de violência, além da violência física, especialmente a psicológica e a patrimonial. No entanto, no que que se refere à violência sexual, a maioria das pessoas continua considerando que as próprias mulheres são as responsáveis, seja por usarem “roupas provocantes”, seja por não se comportarem “adequadamente”.
Segundo o estudo, “por maiores que tenham sido as transformações sociais nas últimas décadas, com as mulheres ocupando os espaços públicos, o ordenamento patriarcal permanece muito presente em nossa cultura e é cotidianamente reforçado, na desvalorização de todas as características ligadas ao feminino, na violência doméstica, na aceitação da violência sexual. A família patriarcal organiza-se em torno da autoridade masculina; para manter esta autoridade e reafirmá-la, o recurso à violência – física ou psicológica – está sempre presente, seja de maneira efetiva, seja de maneira subliminar”.


Fonte: http://www.onu.org.br/populacao-brasileira-e-ainda-patriarcal-mostra-pesquisa-do-ipea-apoiada-pela-onu/

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A lei é o crime

No nosso caso, em que o próprio regime político é criminoso e a democracia é racionada, é necessário periodicamente reinventar os crimes políticos


 
“O criminoso não produz apenas crimes, mas ainda o Direito Penal (…). O criminoso produz ainda a organização da polícia e da Justiça penal, os agentes, juízes, carrascos, jurados (…). Somente a tortura possibilitou as mais engenhosas invenções mecânicas e ocupa uma multidão de honestos trabalhadores na produção desses instrumentos”.
(Karl Marx, Teorias da Mais Valia).
Nada disso justifica matar um cinegrafista. Mas esta morte também não justifica uma lei criminosa (Eduardo Pelosi/Flickr)

No dia 10 de fevereiro ocorreu a lamentável morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade atingido numa manifestação no Rio de Janeiro. Imediatamente vozes da imprensa se ergueram contra os manifestantes que agridem (sic) a polícia e agora até jornalistas! Na tribuna do senado homens “probos” como Renan Calheiros pediram a prisão de manifestantes e os telejornais ressuscitaram o projeto de lei contra o “terrorismo”.
Este é um momento delicado porque a Direita acredita que tem um mártir.

Mentiras
Não é verdade que manifestantes saem às ruas para atacar pessoas. Os ataques são sempre ao patrimônio simbólico de grandes instituições financeiras. Simbólicos sim porque uma vidraça quebrada tem praticamente custo zero para tais empresas. Obviamente que ao serem acuados, agredidos, atropelados (como uma jovem de 18 anos em São Paulo), baleados (como outro jovem na mesma cidade), perseguidos aleatoriamente por pura vingança, os manifestantes reagem: quebram catracas, ônibus e atiram pedras nos policiais em legítima defesa.

Indignação Seletiva
Quando Douglas Martins Rodrigues, 17 anos, foi morto pela PM no Jaçanã, zona norte de São Paulo, grande parte da imprensa tratou da revolta espontânea da população local como “vandalismo”. E quem se choca com milhares de mortes de pobres nas periferias todos os anos?

Lei Celerada
Nada disso justifica matar um cinegrafista. Mas esta morte também não justifica uma lei criminosa. Em junho de 1927 o Presidente Washington Luiz apoiou a chamada “lei celerada” que criminalizava protestos públicos e greves. Houve intervenções nos sindicatos e os anarquistas e comunistas foram presos. Aos “tenentes” no exílio ou na clandestinidade lhes foi negada a anistia. E assim tudo correu bem até que a chamada “Revolução de 1930” varreu aquele presidente do poder. Em São Paulo a população invadiu e depredou a chamada “Bastilha do Cambuci” onde os presos políticos eram torturados.
É evidente que depois ingressamos em nova forma de dominação.

Terrorismo?
A lei contra o terrorismo é tão estapafúrdia, causa tanto horror nos meios jurídicos progressistas que precisa buscar exemplos tão frágeis quanto o de inventar uma “organização criminosa bloco negro”. Que ela não existe a polícia já sabe, é óbvio. Qualquer um pode empregar esta tática. Mas como o Estado, a grande imprensa e alguns estudiosos do Direito Penal, a Polícia também vive do crime.
No nosso caso, em que o próprio regime político é criminoso e a democracia é racionada, é necessário periodicamente reinventar os crimes políticos. A fachada democrática atual ainda não permite que sejam tratados enquanto tal. É que na verdade tais crimes sequer existem. Por isso, é preciso inventá-los. Afinal, como se justificariam os batalhões de choque sem os temíveis blocos negros?

Fonte: Revista Forum

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

RACISMO E DEMOCRACIA AMPUTADA

No Fórum Social Mundial Temático, realizado na semana passada em Porto Alegre, a ativista sul-africana Wilhelmina Trout, representante da Marcha Mundial de Mulheres na África do Sul, deu um impressionante depoimento sobre a sua vida e a trajetória de militância no seu país. Quando votou pela primeira vez, já era avó. A luta pelos direitos civis foi uma árdua batalha, liderada por Nelson Mandela. Após vinte anos do fim do apartheid, a avaliação que ela faz não é das mais promissoras. A desigualdade econômica entre brancos e negros permanece e, em algumas situações, até se acentua; há um desânimo latente entre vários jovens negros e até já há vários deles que passaram a ser eleitores dos partidos brancos.
A conquista dos direitos civis é um patrimônio coletivo, foi à custa de muito suor e sangue que se chegou a este patamar. Porém, não é suficiente para se pensar em uma verdadeira democracia (aliás, o nome do painel era “Contra o capital, a democracia real”). Segundo Trout, houve um equívoco durante o processo de transição e negociação do fim do apartheid: “nós focamos exclusivamente no direito a voto, no direito civil, e esquecemos dos direitos econômicos; e era uma oportunidade importante para se exigir isto diante da pressão internacional que conseguimos contra o regime de segregação racial”.
Sempre lembro do escritor José Saramago que, em uma palestra no Fórum Social Mundial de 2008, disse que a democracia que vivemos é “sequestrada, condicionada e amputada”. Por quem? Pelos poderes de “facto” – o poder do grande capital globalizado expresso pelas corporações transnacionais, pelo sistema financeiro, pela indústria midiática e do entretenimento e pelo poder bélico.
O capitalismo global se organiza por redes produtivas globais e precisa, para isto, de centros tecnológicos de ponta; de uma ambiência política esvaziada para favorecer a desregulação (daí a crescente despolitização da esfera pública e a transfiguração do cidadão em consumidor) e de grandes áreas para funcionar como “lixeiras” onde se encontram relações predatórias de trabalho, de degradação ambiental e de descarte dos detritos do consumo descartável.
O que está acontecendo na atual conjuntura é que os lugares de ponta do capitalismo global estão experimentando o esvaziamento da ambiência política, a tendência à direitização dos governos com forma de manter “controlados” os lugares da exploração predatória, nos quais crescem os questionamentos ante ao atual modelo de produção.
Este processo não acontece apenas entre países, mas também dentro de nações em que há disparidades deste tipo. No caso do Brasil, as reivindicações dos segmentos sociais subalternizados, por mais simples que sejam, como jovens negros querendo passear nos shoppings, recebem respostas brutalmente violentas daqueles que tem medo da sua condição social deixar de ser privilégio - note que não se trata de perda da condição sócio-econômica, mas sim desta deixar de ser algo de “distinção” social.
É por isto que o racismo como mecanismo ideológico estruturante destas relações aparece de forma cada vez mais explícita e violenta. As tímidas políticas de inclusão social tocadas pelo atual governo já são motivo de violenta reação não só das elites mas também de parte de uma classe média que tem o seu ethos marcado pela perspectiva aristocrática de expressar publicamente a sua distinção, o que a faz ter verdadeira ojeriza a políticas públicas como prioridade ao transporte coletivo, a moradia popular, educação pública de qualidade, ações afirmativas para negros, entre outros.
Assim, falar em democracia transcende os aspectos formais dos direitos civis (embora estes sejam importantes). E também é necessário que se tenha em consideração que o poder de fato está divorciado da esfera pública política.

Fonte: Revista Forum

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A Educação como ferramenta de melhora das condições de vida dos indivíduos e da sociedade

A Educação nos aspectos microeconômicos e macroeconômicos e, suas externalidades. Segundo Gustavo Loschpe, autor do livro " A ignorância custa um mundo", ressalta justamente sobre o valor da educação pública para o desenvolvimento da sociedade e para o processo educacional, visando o crescimento econômico brasileiro.
Através de pesquisas realizadas por cientistas sociais constatou-se que o conhecimento determina a valor do homem. A economia não depende apenas do sistema capitalista, mas da qualidade de seus serviços oferecidos pelo homem, o chamado capital humano, para proporcionar a riqueza do país. Deve-se entender que todo gasto em educação é investimento, ou seja, leva ao aumento da renda futura.
O investimento na educação, promove qualidade do material humano, que resulta em retorno que são benefícios medidos pelo ganho salarial do ser social comparada com outro com um ano de escolaridade a menos, incluindo os custos diretos e as oportunidades. Por isso, a importância de se ofertar educação, caso o contrário, a desigualdade de renda aumenta entre os com e sem instrução, independente de ser oferta pelo Governo ou financiada pelo próprio indivíduo. A questão é que a educação é o caminhos, então a sociedade ter essa visão e lutar, não esperar que do Estado iniciativas que venham beneficiar a massa, mas sim, fazer valer o direito a educação e de qualidade.
As externalidades positivas geradas pela educação como, por exemplo, a diminuição da criminalidade, a redução da taxa de mortalidade infantil devido aos níveis de escolaridade materna são benefícios que por nao serem apreçados não são computados como benefícios privados. Desta maneira, fica evidente que a ausência de financiamento público na educação prejudica toda uma sociedade, pois impede o desenvolvimento pessoal e profissional do cidadão, e com isso, gerando efeitos negativos para a economia do país e para processo e construção democrática no Brasil. 



domingo, 12 de janeiro de 2014

A violência psicológica contra mulheres é um problema naturalizado

Os resultados de uma recente pesquisa do Instituto Avon sobre violência doméstica vêm rodando pela internet – mas entre tantos dados pertinentes e preocupantes, há um ponto especial que geralmente passa batido: os abusos psicológicos, verbais e emocionais. Segundo os resultados, uma porcentagem assustadora de 56% dos homens entrevistados admitiram ter tido atitudes violentas contra mulheres. Algumas formas de violência citadas incluem xingamentos, humilhações públicas, ameaças verbais, empurrões e proibições de sair de casa em algum momento, sendo os xingamentos os mais prevalentes.

A Psicologia trabalha amplamente com a questão dos abusos verbais. A quantidade de publicações relacionadas ao tema é vasta e a maioria dos profissionais concordam que xingamentos dentro de relacionamentos românticos são sinal de péssimas consequências. Grande parte das demandas clínicas e de saúde mental envolvem violência psicóloga, crises de ciúme e o podamento da liberdade do parceiro. É importante perceber que essas demandas são mais frequentes entre as mulheres e as estatísticas só servem para confirmar o recorte de gênero.
O fato de que as mulheres são as maiores vítimas dos abusos psicológicos chama atenção para o machismo da sociedade (Flickr/Christopher Michel)
Mas não é necessário ser profissional ou estudante de Psicologia para compreender as consequências catastróficas dos abusos verbais. Casos de violência física e feminicídio muito frequentemente começam com xingamentos, manipulações e chantagens, formas de violência que não aparentam ser tão graves no começo, mas que pioram gradativamente. As narrativas são muito semelhantes e o agressor que esmurrou ou espancou sempre começa com comentários depreciativos, muitas vezes devido a crises de ciúmes.
No entanto, as mortes e hematomas não são as únicas consequências que os abusos verbais precedem, pois a violência psicológica e emocional causa outros problemas gravíssimos. Um comentário depreciativo é o suficiente para agredir a autoestima e a percepção de valor próprio do alvo, várias vezes minando sua vontade de viver. Gestos e palavras agressivas transformam uma mulher em um rascunho de ser humano, perdida na dependência emocional e sem forças para enxergar uma realidade melhor. Os termos e chantagens são tão pesados que fazem com que a vítima não consiga entender que merece um relacionamento feliz, já que aquele contexto de sofrimento se torna o padrão, a única opção.
Um dos fatores que dificultam solucionar os relacionamentos abusivos é que os abusos são, quase sempre, encarados como coisas normais dentro de um casamento, que “fazem parte da vida”. O discurso conformista é praticamente unânime. No entanto, permitir que a sociedade continue encarando brigas violentas, físicas ou verbais, como coisas indissociáveis dos relacionamentos, é uma colaboração com os intermináveis crimes misóginos. Se todos os comportamentos humanos acontecem devido a influências de suas raízes culturais, é óbvio que o modo como as pessoas lidam com os problemas no campo emocional é a própria base da violência doméstica. Não adianta tentar impedir os espancamentos e estupros, mas continuar se omitindo quando um casal discute e o homem dispara uma bomba de termos chulos, palavrões e críticas cruéis contra sua esposa.
O fato de que as mulheres são as maiores vítimas dos abusos psicológicos chama atenção para o machismo da sociedade. São as mulheres que crescem sob demandas violentas, sendo pressionadas a suportar toda espécie de xingamento, controle sobre seus corpos e podamento de suas liberdades. Os axiomas de sensibilidade, compreensão e cuidado continuam empurrando o sexo feminino para uma história única, sem variações significativas: ao invés de serem responsabilizados por seus atos, os homens problemáticos precisam de cuidado e compreensão, pois considera-se que somente uma mulher amorosa pode ser capaz de transformá-lo. Até parece um conto de fadas, só que nesses casos é a mulher que precisa ser maternal e se anular enquanto sujeito para salvar o homem de seus comportamentos impulsivos e desonestos.
Para além das idealizações, a resignação em um relacionamento infeliz é frequentemente exigida das mulheres. É por isso que quando são envolvidas questões de classe e religião, a manutenção do status econômico e a reputação na comunidade espiritual funcionam como correntes que mantêm as mulheres presas aos abusos – afinal, “o amor tudo suporta, tudo espera”. Tal constatação é extremamente preocupante, pois a sociedade pressiona e coage o gênero feminino a permanecer com maridos e namorados abusivos, mesmo que reconheçam que o homem está passando dos limites; a expectativa é de que com paciência tudo se resolva eventualmente.
Relacionar o amor com a tolerância ao machismo adoece os relacionamentos, tornando-os venenosos e perigosos. A sociedade induz as mulheres a se transformarem em mártires, e sob a pena de serem consideradas infiéis, vadias e negligentes, muitas delas se conformam com os relacionamentos abusivos. Não é à toa que se espera a desistência da autonomia por parte da mulher quando a mesma se diz apaixonada. Além disso, o sexismo ligado aos papéis de gênero contribui fortemente na manutenção dos abusos: os discursos culturais giram em torno da “irracionalidade” feminina e de como estão supostamente exagerando quando reclamam de atitudes dos parceiros. Desse modo, é fácil invalidar as denuncias das mulheres, pois se são cegas emocionalmente e sempre reclamam de tudo, nada garante que o homem está de fato sendo violento. É por isso que testes como este são tão importantes, sendo uma ferramenta acessível para que mais mulheres em relacionamentos possam pensar se sofrem risco de abuso.
É preciso alertar homens e mulheres sobre o que configura abuso emocional e psicológico e controle sobre a outra parte, como quando o parceiro passa a se incomodar com as roupas que a mulher usa, suas amizades ou locais que frequenta. Se um homem chega ao ponto de impedir a saída da mulher e o contato com outras pessoas, é porque ele está sendo abusivo e machista, tratando-a como um objeto sob seu controle. Lamentavelmente, a sociedade custa a entender isso e levanta muitos argumentos para justificar tais atitudes. As pessoas se acostumaram com o cerceamento, principalmente quando o sexo feminino é que está sendo cerceado.
Muitas mulheres não sabem que estão sendo vitimadas e permanecem condenadas a um cotidiano de violência. Por isso, é importante nos politizarmos e passarmos a nos posicionar a respeito da violência de gênero. Conscientizar a população sobre a violência psicológica e emocional deve ser prioridade, combatendo a menor manifestação de abuso contra qualquer mulher.

*O teste foi retirado da página Machismo Nosso de Cada Dia no Facebook. Outros testes similares são distribuídos em cartilhas do governo em todos os estados do Brasil.

Fonte: http://revistaforum.com.br/questaodegenero/2013/12/11/a-violencia-psicologica-contra-mulheres-e-um-problema-naturalizado/

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Entidades dizem que 2013 foi marcado por embates na educação




Brasília - Em 2013 ficou decidido que 75% das receitas da União do petróleo e 50% do rendimento do Fundo Social do pré-sal serão investidos em educação, o que vai conferir, em 2014, R$ 1,4 bilhão a mais para o setor. Foi um ano de expansão de matrículas e de bolsas e anúncios, como o início do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio. Mas foi, também, um ano de embates. O Plano Nacional de Educação (PNE), completa mais um ano de tramitação, sem conclusão no Congresso Nacional. A Agência Brasil conversou com representantes de entidades sobre os avanços em 2013 e desafios para 2014.
"Quando a gente olha para outros anos, a educação teve mais 'grandes momentos'. Este ano acaba melancólico, com a votação, no Senado, do PNE. Ficamos frustrados", diz a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz.
O coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação - rede composta por mais de 200 organizações em todo o Brasil -, Daniel Cara, diz que 2013 foi um ano de conflitos, até mesmo em pautas que a sociedade civil conseguiu impor a vontade, como na questão dos royalties. Embora a porcentagem (75%) para a educação tenha sido inferior à defendida pelo governo (100%), o montante total será superior.
“A conquista dos royalties foi importante, mas o processo foi traumático. Também no PNE, tivemos um clima de rivalidade entre o governo e a sociedade civil”, disse. “O papel da sociedade civil é exigir mais direitos e acesso à qualidade. Pode-se abrir uma enorme margem de negociação, mas não podemos abrir mão de uma matrícula que tenha qualidade”, destacou Daniel Cara.
O ano, no entanto, trouxe ao menos expectativas positivas para 2014. Para o vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Cláudio Ribeiro, o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio trará melhorias. “A formação de professores é investimento que vale a pena ser feito. É impossível aperfeiçoar e avançar sem investir na capacitação e formação continuada dos professores”, diz. A expectativa é que todos os estados façam a adesão ao pacto.
A ação deve contribuir para uma melhoria nos indicadores da fase de ensino. Terão ênfase também estratégias de ensino que envolvam as novas tecnologias, como tablets, distribuídos aos professores do ensino médio. “Tem que ser levado em consideração que a juventude de hoje não é a mesma do século passado. É preciso ter uma visão diferente do papel do professor”.
No âmbito da educação infantil, a presidenta da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho, destacou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), começou a ser implementado este ano. O pacto prevê que toda criança deve ter alfabetização em português e matemática até os 8 anos de idade. “A experiência com o pacto é extremamente positiva. Fizemos a formação dos professores e agora aguardamos os resultados”.
Este ano foi realizada pela primeira vez a Avaliação Nacional da Alfabetização (Ana), aplicada no terceiro ano do ensino fundamental, fim do ciclo de alfabetização. Os resultados devem ser divulgados em março, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “A avaliação vai mostrar o impacto da alfabetização e como temos que nos preparar para o próximo ano”.
Entre as instituições particulares, a educação também avançou, segundo a presidenta da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios. No entanto, não foi de maneira uniforme, ainda há escolas e instituições de ensino superior que precisam avançar na qualidade. “É preciso ter uma meta e ajudar as empresas que estão com dificuldades em oferecer um serviço de qualidade. Isso deve ser feito independentemente do estado onde estejam”.
Ela criticou os ranqueamentos do ensino feitos pela imprensa. Tanto das médias de desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), quanto do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). “O ranking vende para a sociedade que a instituição que vai bem nas avaliações é a melhor escola ou faculdade. Nem sempre a que vai bem é a que faz diferença na vida do aluno, que faz com que ele saia melhor que entrou. O ranking gera uma competitividade nociva no mercado”, diz.
As entidades destacaram para 2014, a aprovação do PNE como a primeira meta. Além disso, fica a tarefa de concluir a base nacional comum, o currículo nacional. "Precisamos ter clareza do que se tem que aprender a cada ano [na educação básica], precisamos de um debate mais adequado e estudos acompanhando esse processo", diz Priscila.

Fonte: EBC