Os resultados de uma recente pesquisa
do Instituto Avon sobre violência doméstica vêm rodando pela internet –
mas entre tantos dados pertinentes e preocupantes, há um ponto especial
que geralmente passa batido: os abusos psicológicos, verbais e
emocionais. Segundo os resultados, uma porcentagem assustadora de 56%
dos homens entrevistados admitiram ter tido atitudes violentas contra
mulheres. Algumas formas de violência citadas incluem xingamentos,
humilhações públicas, ameaças verbais, empurrões e proibições de sair de
casa em algum momento, sendo os xingamentos os mais prevalentes.
A Psicologia trabalha amplamente com a questão dos abusos verbais. A
quantidade de publicações relacionadas ao tema é vasta e a maioria dos
profissionais concordam que xingamentos dentro de relacionamentos
românticos são sinal de péssimas consequências. Grande parte das
demandas clínicas e de saúde mental envolvem violência psicóloga, crises
de ciúme e o podamento da liberdade do parceiro. É importante perceber
que essas demandas são mais frequentes entre as mulheres e as
estatísticas só servem para confirmar o recorte de gênero.
O
fato de que as mulheres são as maiores vítimas dos abusos psicológicos
chama atenção para o machismo da sociedade (Flickr/Christopher Michel)
Mas não é necessário ser profissional ou estudante de Psicologia para
compreender as consequências catastróficas dos abusos verbais. Casos de
violência física e feminicídio muito frequentemente começam com
xingamentos, manipulações e chantagens, formas de violência que não
aparentam ser tão graves no começo, mas que pioram gradativamente. As
narrativas são muito semelhantes e o agressor que esmurrou ou espancou
sempre começa com comentários depreciativos, muitas vezes devido a
crises de ciúmes.
No entanto, as mortes e hematomas não são as únicas consequências que
os abusos verbais precedem, pois a violência psicológica e emocional
causa outros problemas gravíssimos. Um comentário depreciativo é o
suficiente para agredir a autoestima e a percepção de valor próprio do
alvo, várias vezes minando sua vontade de viver. Gestos e palavras
agressivas transformam uma mulher em um rascunho de ser humano, perdida
na dependência emocional e sem forças para enxergar uma realidade
melhor. Os termos e chantagens são tão pesados que fazem com que a
vítima não consiga entender que merece um relacionamento feliz, já que
aquele contexto de sofrimento se torna o padrão, a única opção.
Um dos fatores que dificultam solucionar os relacionamentos abusivos é
que os abusos são, quase sempre, encarados como coisas normais dentro
de um casamento, que “fazem parte da vida”. O discurso conformista é
praticamente unânime. No entanto, permitir que a sociedade continue
encarando brigas violentas, físicas ou verbais, como coisas
indissociáveis dos relacionamentos, é uma colaboração com os
intermináveis crimes misóginos. Se todos os comportamentos humanos
acontecem devido a influências de suas raízes culturais, é óbvio que o
modo como as pessoas lidam com os problemas no campo emocional é a
própria base da violência doméstica. Não adianta tentar impedir os
espancamentos e estupros, mas continuar se omitindo quando um casal
discute e o homem dispara uma bomba de termos chulos, palavrões e
críticas cruéis contra sua esposa.
O fato de que as mulheres são as maiores vítimas dos abusos
psicológicos chama atenção para o machismo da sociedade. São as mulheres
que crescem sob demandas violentas, sendo pressionadas a suportar toda
espécie de xingamento, controle sobre seus corpos e podamento de suas
liberdades. Os axiomas de sensibilidade, compreensão e cuidado continuam
empurrando o sexo feminino para uma história única, sem variações
significativas: ao invés de serem responsabilizados por seus atos, os
homens problemáticos precisam de cuidado e compreensão, pois
considera-se que somente uma mulher amorosa pode ser capaz de
transformá-lo. Até parece um conto de fadas, só que nesses casos é a
mulher que precisa ser maternal e se anular enquanto sujeito para salvar
o homem de seus comportamentos impulsivos e desonestos.
Para além das idealizações, a resignação em um relacionamento infeliz
é frequentemente exigida das mulheres. É por isso que quando são
envolvidas questões de classe e religião, a manutenção do status
econômico e a reputação na comunidade espiritual funcionam como
correntes que mantêm as mulheres presas aos abusos – afinal, “o amor
tudo suporta, tudo espera”. Tal constatação é extremamente preocupante,
pois a sociedade pressiona e coage o gênero feminino a permanecer com
maridos e namorados abusivos, mesmo que reconheçam que o homem está
passando dos limites; a expectativa é de que com paciência tudo se
resolva eventualmente.
Relacionar o amor com a tolerância ao machismo adoece os
relacionamentos, tornando-os venenosos e perigosos. A sociedade induz as
mulheres a se transformarem em mártires, e sob a pena de serem
consideradas infiéis, vadias e negligentes, muitas delas se conformam
com os relacionamentos abusivos. Não é à toa que se espera a desistência
da autonomia por parte da mulher quando a mesma se diz apaixonada. Além
disso, o sexismo ligado aos papéis de gênero contribui fortemente na
manutenção dos abusos: os discursos culturais giram em torno da
“irracionalidade” feminina e de como estão supostamente exagerando
quando reclamam de atitudes dos parceiros. Desse modo, é fácil invalidar
as denuncias das mulheres, pois se são cegas emocionalmente e sempre
reclamam de tudo, nada garante que o homem está de fato sendo violento. É
por isso que testes como este
são tão importantes, sendo uma ferramenta acessível para que mais
mulheres em relacionamentos possam pensar se sofrem risco de abuso.
É preciso alertar homens e mulheres sobre o que configura abuso
emocional e psicológico e controle sobre a outra parte, como quando o
parceiro passa a se incomodar com as roupas que a mulher usa, suas
amizades ou locais que frequenta. Se um homem chega ao ponto de impedir a
saída da mulher e o contato com outras pessoas, é porque ele está sendo
abusivo e machista, tratando-a como um objeto sob seu controle.
Lamentavelmente, a sociedade custa a entender isso e levanta muitos
argumentos para justificar tais atitudes. As pessoas se acostumaram com o
cerceamento, principalmente quando o sexo feminino é que está sendo
cerceado.
Muitas mulheres não sabem que estão sendo vitimadas e permanecem
condenadas a um cotidiano de violência. Por isso, é importante nos
politizarmos e passarmos a nos posicionar a respeito da violência de
gênero. Conscientizar a população sobre a violência psicológica e
emocional deve ser prioridade, combatendo a menor manifestação de abuso
contra qualquer mulher.
*O teste foi retirado da página Machismo Nosso de Cada Dia no
Facebook. Outros testes similares são distribuídos em cartilhas do
governo em todos os estados do Brasil.
Fonte: http://revistaforum.com.br/questaodegenero/2013/12/11/a-violencia-psicologica-contra-mulheres-e-um-problema-naturalizado/

"Quando
a gente olha para outros anos, a educação teve mais 'grandes momentos'.
Este ano acaba melancólico, com a votação, no Senado, do PNE. Ficamos
frustrados", diz a diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila
Cruz.
Ela
criticou os ranqueamentos do ensino feitos pela imprensa. Tanto das
médias de desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), quanto do
Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). “O ranking
vende para a sociedade que a instituição que vai bem nas avaliações é a
melhor escola ou faculdade. Nem sempre a que vai bem é a que faz
diferença na vida do aluno, que faz com que ele saia melhor que entrou. O
ranking gera uma competitividade nociva no mercado”, diz.